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Publicado em 12/11/2014 por Joana Gonçalves

A amamentação é uma prática ancestral. Mas se antes era adotada sem constrangimentos ou questões, nos últimos anos tem levantado dúvidas, principalmente nos países desenvolvidos.

Diz a Organização Mundial de Saúde que o leite materno é o melhor alimento que o bebé pode receber durante os primeiros seis meses de vida.

Em Portugal, e de acordo com dados do Registo do Aleitamento Materno de 2013 do Observatório do Aleitamento Materno, às seis semanas de vida 67,5% dos bebés são amamentados em exclusivo com leite materno. Entre o segundo e o terceiro mês, o valor desce para 51,6%. E apenas 22,1% das mães mantêm a amamentação entre o quinto e o sexto mês.

Uma década antes, em 2003, à saída da maternidade havia uma prevalência de 95% de bebés amamentados exclusivamente com leite materno, segundo relatório da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Aos seis meses o valor desce até aos 25%, sendo, no entanto, superior ao que se verifica 10 anos depois.

Comparando com outros países, verificamos que, por exemplo, na América Latina, a amamentação é feita, em média, até aos 15 meses de idade, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde. Em Portugal a duração média é de 3,6 meses.

Tal deve-se, segundo Ana Costa, médica pediátrica, a uma série de mitos e dificuldades que a mulher enfrenta, em parte devido à falta de informação sobre o tema.

Mitos influenciam na decisão

A especialista explica que muitas mulheres pensam que o peito pode não ter leite suficiente por ser pequeno. "Tal não é verdade, já que o leite é produzido em canais que nada têm que ver com a gordura que define o tamanho. O peito produz a quantidade de leite que o bebé precisa", refere.

Outro dos mitos mais comuns prende-se com a ideia de que até à subida do leite, ou seja, a produção de leite pela mãe cinco a sete dias após o parto, é preciso dar biberão. "É falso. No início, o colostro – substância produzida logo após o parto – é um líquido com uma consistência espessa e cor amarela ou transparente e, apesar de ser produzido em pequena quantidade, tem na sua constituição todos os nutrientes necessários para alimentar adequadamente o recém-nascido", explicou Ana Costa.

Há mães que acreditam, ainda, que o leite, por ser aquoso, não alimenta tão bem o bebé e por isso recorrem ao leite industrial. Ana Costa esclarece que "o leite de todas as mães alimenta. Só é preciso dar tantas vezes quantas o bebé pedir." Isto porque quando se inicia a mamada, o primeiro leite que sai tem maior quantidade de água e de açúcares. "Após um período de sucção, o leite fica mais espesso por ter mais gorduras", refere.

Mais recentemente, com o aumento de cirurgias plásticas – mamoplastias – em mulheres jovens, surge também a dúvida quanto à possibilidade de amamentar. Ana Costa explica que, hoje em dia, há várias técnicas que preservam a anatomia glandular e, portanto, permitem amamentar futuramente.

Leite materno fomenta o crescimento saudável do bebé

A especialista salienta que é através do leite materno que são transferidas defesas para o bebé que o irão proteger de doenças e reforçar o seu sistema imunitário, pelo que a amamentação se reveste de uma grande importância. Esta prática só é desaconselhada em alguns casos, raros, em que a mãe sofra de doenças infeciosas, má nutrição ou esteja dependente de drogas.

"As baixas taxas de aleitamento materno e a cessação prematura do mesmo têm implicações desfavoráveis importantes para a saúde e para a estrutura social da mulher, da criança, da comunidade e do meio ambiente", enfatiza o relatório do Observatório do Aleitamento Materno.

No que diz respeito aos bebés prematuros, por exemplo, dados resultantes do projeto europeu EPICE (Effective Perinatal Intensive Care in Europe) demonstram que os bebés que nascem com menos de 32 semanas de idade gestacional, em Portugal, e são alimentados com leite materno têm menor probabilidade de voltarem a ser internados.

Foto: ©flickr/ohkylel

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