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©Diana Marques
Artigo
Publicado em 30/10/2012 por Isabel Pereira

Nos pinhais é uma praga. Em nós é um agente alérgico. Falamos da processionária do pinheiro. Conhece este inseto? Então afaste-se dele.

A Thaumetopoea pitycampa, conhecida vulgarmente como lagarta do pinheiro, teve a sua origem na bacia do mediterrâneo, encontrando-se no sul da Europa e norte de África. Em Portugal, seguindo a distribuição de pinhal, está presente por todo o território. Para além da sua ação nos pinheiros, também para o Homem esta praga pode representar perigo.

Para se defender, a larva tem pelos laterais que projeta quando se sente ameaçada (tal como faz o ouriço-cacheiro). Segundo explica Manuela Branco, docente do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, esses pelos podem ser projetados a “centenas de metros, espetam na pele das vítimas, e transmitem uma proteína que causa alergia”. Esta proteína (taumatopoína) causa irritações na pele (ardor, comichão e manchas avermelhadas), irritações nos olhos (olhos avermelhados, inchados e comichão) e dificuldade respiratória.

Para o pinheiro as consequências são vastas. As larvas alimentam-se da folha, e ao reduzirem a biomassa da árvore fazem com que ela tenha dificuldades de crescimento. O pinheiro desfolhado fica, ainda, bastante enfraquecido e, por isso, mais vulnerável ao ataque de outros insetos ou doenças.

Como identificar a presença da processionária

Na fase de postura de ovos a fêmea enrola duas agulhas do pinheiro com suas escamas, formando uma estrutura com um tom dourado, difícil de distinguir na árvore. Depois, quando as larvas eclodem dos ovos e começam a alimentar-se fazem secar as folhas que ficam quase como se fossem ardidas. Mais tarde, as larvas formam ninhos que são mais visíveis, pois produzem uma seda de proteção que faz o ninho parecer uma espécie de bola de algodão.

Identificada a praga, o seu combate é feito através de inseticidas específicos, baseados numa bactéria, retirando-se e queimando-se os ninhos e colocando-se cintas de cola nas árvores, que capturam as larvas quando estas estão a descer. No meio natural, os inimigos da processionária vão desde algumas aves (cuco, chapim, gaio, etc.), quando estão nas árvores, a pequenos roedores quando, estão no solo, passando por outros insetos e parasitas.

Uma população única em Leiria

A processionária do pinheiro tem um ciclo de vida anual, sendo que é entre janeiro e fevereiro que vemos as  “procissões” que dão o nome à espécie. Mas, recuando até ao verão, é nessa altura que os ovos são postos e demoram 3 a 4 semanas a eclodir. Depois, já como larva [ver recursos], a processionária passa por 5 fases de mudança e, se nas primeiras é pequena, tem uma tonalidade verde e cabeça preta, no estado mais evoluído é preta com listas vermelhas e caracteriza-se por uma abundante pelugem branca. Estas 5 fases são passadas no ninho, na árvore, e duram entre 6 a 9 meses. É nesta altura que descem dos pinheiros e, unidas por sinais de comunicação química (feromonas), formam uma fila até ao solo, onde se enterram e permanecem até ao verão seguinte, quando surgem os adultos [ver recursos].

Segundo revela a especialista Manuela Branco, “tem sido estudada uma população de processionária com um ciclo de vida diferente do habitual”. Trata-se de uma população residente na Mata Nacional de Leiria, na qual esta mutação num gene fez com que alterasse o ciclo de vida.

“Em vez de nascerem no verão os adultos nascem no final da primavera (um mês antes do que seria normal) e, por isso, não se cruzam com os adultos das outras populações mantendo-se reprodutivamente isolados e assim geneticamente diferenciados”, esclarece. Por evoluírem no verão, as larvas desenvolvem-se muito mais rápido e acabam por se enterrar ainda em setembro. A fase de procissão ocorre, então, numa altura em que há mais atividade humana no exterior, pelo que o perigo para a saúde pública acaba por se agravar.

Esta mutação terá acontecido há cerca de 100/200 anos e neste momento a população está em expansão até à zona da Nazaré.

Imagem Principal: Diana Marques

Ilustrações em recursos:  Mafalda Paiva

 

  

 

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