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Artigo
Publicado em 12/12/2012 por Cláudia Azevedo

Poderá um injetável com água e cloreto de sódio ou uma cápsula com farinha curar uma depressão ou uma úlcera gástrica? Em muitos doentes, a resposta é sim. A explicação está no efeito placebo.

Chamamos medicamentos às substâncias ou composições de substâncias que possuam propriedades curativas ou preventivas das doenças e dos seus sintomas. O placebo é nada mais, nada menos do que um falso medicamento.

“O placebo é um pseudomedicamento. Parece um medicamento, mas não tem uma substância ativa à qual possamos atribuir uma ação farmacológica e terapêutica. Por exemplo, soluções injetáveis com soro fisiológico; cápsulas com amido ou lactose; comprimidos com todos os excipientes, mas sem o princípio ativo”, explica Walter Osswald, Professor Catedrático jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Se é um falso medicamento, para quê usá-lo? Na verdade, “o placebo tem efeitos terapêuticos, o que é um paradoxo. O caso clássico é a úlcera gástrica, em que 30% dos doentes melhoram com placebo, enquanto, entre os que não fazem placebo, só melhoram 10%”. 

O efeito placebo regista-se quando há um envolvimento psicológico, como na ansiedade, na insónia, na depressão, na asma ou perturbações gastrintestinais como a úlcera. Já em doenças “muito orgânicas”, como infeções ou traumatismos, o placebo não funciona.

Por isso, associa-se muito o placebo à sugestão ou ao engano. “Não parece que seja assim porque têm sido feitos estudos em que as pessoas sabem que lhes está a ser dado um placebo e, apesar disso, melhoram”, nota.

O facto de se saber que se está a ser tratado pode provocar uma “predisposição para melhorar”. Isto a menos que a pessoa seja muito pessimista, em quem pode ocorrer um efeito placebo negativo.

Curiosamente é nos ansiolíticos e antidepressivos que se nota um maior efeito placebo, podendo chegar aos 70%. Por vezes, a diferença entre o efeito do princípio ativo e o efeito placebo é de 10%.

Antes de existirem medicamentos eficazes, o efeito placebo era vital. “Ninguém quer estar doente sem fazer algo. Eram usadas muitas preparações de origem vegetal, mineral e até animal. Muitas delas eram completamente irracionais. Havia um composto chamado teriaga que tinha dezenas de componentes, como sapos secos esmagados num almofariz, teias de aranha, sangue de animais… Era usado para quase tudo. Era uma espécie de panaceia”. E não se pense que era usado por bruxas! Era-o por médicos.

O ópio e a beladona foram dos primeiros medicamentos eficazes usados. “Hoje usamos a morfina, que é extraída do ópio, e a atropina, que é extraída da beladona”, complementa.

Até ao século XIX, a Medicina era feita “de bom senso, de placebo, ou era muito agressiva, com recurso às sangrias e às purgas, que eram altamente nocivas. As purgas eram uma forma de purificar o organismo. D. João V foi sangrado praticamente até à morte. Havia mesmo a profissão de barbeiro sangrador (fazia barbas e sangrava as pessoas). Depois passou a ser cirurgião sangrador. Os médicos não sujavam as mãos com sangue”.

Os doentes sentiam-se “limpos” dos “humores” que acreditavam estar a causar-lhes a doença. Nesse sentido, podemos falar em placebo.

Hoje em dia, o placebo é usado voluntariamente em poucos casos. É-o sobretudo nos ensaios clínicos como hipótese nula para comparar com o princípio ativo, com conhecimento e consentimento dos participantes. Já na prática clínica, usar uma cápsula como amido e lactose não seria ético.

No entanto, a Medicina não está isenta de modas e alguns medicamentos continuam a ser usados com muito sucesso, mesmo sem comprovação científica dos seus benefícios.

Foto: Flickr/pinkangelbabe

 

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