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©Tiago Magalhães
Artigo
Publicado em 15/1/2015 por Joana Gonçalves

Crescer rodeado pela natureza fez com que Tiago Magalhães começasse, desde cedo, a registar a vida que o rodeia. Aos 24 anos, dedica-se sobretudo à fotografia de insetos, com particular destaque para as borboletas. O jovem fotógrafo pretende, através das suas imagens, alertar para a conservação das espécies e dos seus habitats.

Quando descobriu que queria ser fotógrafo da natureza?

Tenho um grande fascínio pela natureza desde muito novo. A fotografia surgiu da necessidade de conseguir reter as imagens do dia a dia, quando andava a passear no campo e a observar os animais. Queria mostrar às pessoas o que via, através da imagem. Quando era mais jovem adorava ver os documentários na televisão sobre vida selvagem e tinha curiosidade em saber como é que eram feitos. Também lia imensos livros sobre animais e foi assim que fui ganhando cada vez mais gosto pela fotografia de natureza.

Como foi desenvolvendo a sua formação em fotografia?

Sou autodidata. Fui aprendendo através da internet, de livros de fotografia ou com outros fotógrafos.

Qual foi a fotografia que mais o marcou até ao momento?

Cada uma tem um sentimento especial. As fotografias que mais gosto de fazer são as dos diferentes estados de metamorfose dos insetos. Recordo a altura em que andava há já bastante tempo à procura da lagarta da borboleta do medronheiro. Queria conseguir fotografar o momento da eclosão do estado de pupa [fase intermédia entre a larva e o adulto] para o nascimento da borboleta. Foi uma busca de cerca de dois anos. Um dia consegui encontrá-la, tive que esperar que acabasse a metamorfose e aguardar até ao nascimento. Depois são só quatro ou cinco segundos até a borboleta a romper. E, naquele espaço de tempo, naqueles cinco segundos, deu-se o culminar de dois anos em duas ou três fotografias. Essas são algumas das fotos de que eu mais gosto, que deram mais trabalho e que também tiveram maior impacto.

Que características deve ter um bom fotógrafo da natureza?

Em primeiro lugar tem que amar a natureza e respeitá-la. Se assim não for, não vale a pena ser fotógrafo da natureza. Depois deve ter muita paciência – para conseguir fotografar uma ave, por exemplo, pode demorar-se horas ou dias – e é preciso ter perseverança e determinação. Um bom fotógrafo da natureza deve ter ainda um grande sentido de autocrítica e alguma resistência física.

O que lhe dá mais gozo fotografar?

Sobretudo insetos. Faço bastante macrofotografia, de detalhes. Mas não descarto o resto do meio ambiente. Estou a iniciar-me no mundo das aves, que não é tão fácil quanto parece.

Qual considera ser a melhor zona do país para fotografar?

Sou do norte e costumo dizer que abaixo do rio Douro as coisas estão a ficar um pouco feias. As nossas florestas estão a ser engolidas pela monocultura do eucalipto. No norte ainda se preserva parte da nossa típica floresta. Gosto bastante de fotografar na serra do Alvão e, na zona de Vila Real, há sítios muito bonitos e alguns ainda por descobrir.

Que projetos tem para o futuro?

Gostaria de me dedicar a 100% à fotografia da natureza. Um dos projetos que tenho em mãos é a concretização de um livro, "Metamorfoses de uma vida", que consiste em fotografar todos os ciclos da vida das borboletas, em Portugal, e alertar para a conservação das espécies e dos seus habitats.

Qual é, na sua opinião, a importância da fotografia de natureza no panorama geral da ciência?

Os fotógrafos da natureza são tão necessários e importantes como os biólogos. Nós lutamos por manter e preservar habitats, locais e espécies. Imagens fortes e bem conseguidas são como armas para batalhar no nosso país, onde a ciência muitas vezes fica em terceiro plano.

 

Na imagem: Borboleta azul de adónis (Lysandra bellargus)
 

©Tiago Magalhães

 

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Tiago Magalhães

Foto: Tiago Magalhães

Borboleta azul de adónis (Lysandra bellargus)

Foto: Tiago Magalhães

Momento da eclosão da borboleta do medronheiro (Charaxes jasius)

Foto: Tiago Magalhães

Narciso (Narcissus triandrus)