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 ©flickr/Stefano Mortellaro
Artigo
Publicado em 7/11/2014 por Joana Gonçalves

A frase "O cão é o melhor amigo do homem" já vem de 1870 e é da autoria de George Graham Vest, advogado americano que pretendia fazer justiça pela morte a tiro do melhor cão de caça local. Mas Vest estava longe de adivinhar que o cão poderia ajudar o homem de muitas mais formas, inclusive na deteção de doenças através do odor.

"O olfato dos cães é muito, mas muito mais desenvolvido do que o dos humanos. Eles conseguem detetar cheiros que são completamente impercetíveis para nós", explicou ao Ciência 2.0 Liliana de Sousa, docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.

Foi de acordo com este facto que os cientistas se começaram a aperceber que o olfato dos cães pode ser uma mais-valia para a saúde dos humanos. Nos últimos anos, várias investigações têm provado que os cães conseguem detetar o odor de cancro dos pulmões, pele, bexiga, mama, próstata e intestino, bem como sintomas de doenças crónicas.

"A modificação celular traduz-se em odores diferentes que são percetíveis para os cães. Se forem educados a detetar esse odor, podem 'dizer-nos' através de vários comportamentos: ao sentar, ao ladrar... depende da maneira como forem educados", acrescentou Liliana de Sousa.

E é nesse sentido que seis animais estão atualmente a ser treinados no Medical Detection Dogs, no Reino Unido, para detetar com precisão o cancro da mama através do cheiro de amostras de respiração, isto é, as pacientes têm que respirar para um tubo que é, depois, inalado e testado por cães treinados. Nos testes são usados cães de raça labrador e spaniels e 1500 amostras.

De acordo com o jornal "The Telegraph", caso os resultados sejam positivos, poder-se-á detetar precocemente situações de doença, o que aumenta a taxa de cura.

Já em 2011, um estudo alemão tinha provado que os cães são capazes de sentir o odor de cancro dos pulmões através de amostras de respiração. Foram analisadas 220 amostras de voluntários, das quais 110 pertenciam a pessoas saudáveis, 60 a doentes com cancro pulmonar e 50 com doença pulmonar obstrutiva crónica. Os cães (dois pastores alemães, um pastor australiano e um labrador, treinados durante 11 semanas) acertaram em 71% dos casos.

Todos os cães podem ser treinados

Embora para esta função todos os cães possam ser treinados para detetar odores cancerígenos e não existam raças caninas mais especializadas, Liliana de Sousa explica que se "utilizam muito os labradores e os cães de caça em geral, uma vez que já estão habituados a estas tarefas".

De acordo com a docente, recomenda-se que o treino de um cão seja feito a partir dos sete meses de idade, visto que necessitam de ter uma maturidade especial para responder a esta especificidade. "Antes dos sete meses os cães são demasiado jovens e gostam mais de brincadeiras", sublinhou.

Em Portugal este método de diagnóstico ainda não é uma aposta, ao contrário do que se passa noutros países.

"No nosso país é muito difícil introduzir o cão no ambiente hospitalar", referiu Liliana de Sousa, que vê com alguma dificuldade, a curto prazo, a sensibilização da comunidade para este tipo de trabalho. "Mesmo para outras funções mais lúdicas, que proporcionam momentos muito especiais para as pessoas que estão internadas, é muito difícil introduzir o cão. Temos um ambiente hospitalar muito fechado, mas aos poucos vamos conseguindo", concluiu a especialista.

Foto: ©flickr/Stefano Mortellaro 

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