Grande parte de nós já terá visto este inseto, mas poucos saberão, por exemplo, que a sua presença acelera o crescimento da batateira, quando em pequeno número, que são as larvas quem faz mais estragos ou que eles “hibernam” durante o inverno.
Asas anteriores rijas com 5 riscas pretas cada uma, asas posteriores membranosas dobradas por debaixo das anteriores, e uma armadura bocal trituradora, são as principais caraterísticas que nos permitem identificar um Leptinotarsa decemlineata.
Se já viu este inseto estaria com certeza numa zona com plantação de batata. Falamos do vulgarmente chamado escaravelho da batata. Como a maioria das pragas, ele surgiu no local de origem da cultura, o sudoeste da América do Norte, e terá chegado ao nosso país num carregamento de batata proveniente desta zona, em 1943.
Quem é o Leptinotarsa decemlineata?
O ciclo de vida do escaravelho acompanha o ciclo de vida da batateira, sendo que é na primavera e verão que podemos encontrá-lo pelos campos. Nas páginas inferiores das folhas de batateira, do lado de baixo, ficam abrigados os ovos [ver recurso]. Cada fêmea põe até 800, com cerca de 1,5 mm cada, que são dispostos na folha em grupos de 30. Quatro a 15 dias depois os ovos eclodem dando lugar às larvas [ver recurso], a fase de maior voracidade do inseto, que, já com armadura bocal trituradora, rapidamente devasta as plantas.
Enquanto larva, o escaravelho passa por quatro fases de desenvolvimento, que no total duram entre duas a três semanas. Depois, a larva madura cai no chão e enterra-se a alguns centímetros de profundidade, e aí passa por uma fase de transformação de pupa [ver recurso] para escaravelho adulto. Dez a 20 dias mais tarde emerge o adulto e dá-se início a uma nova fase de reprodução. Estes adultos [ver recurso] vão espalhar-se geograficamente, pois, atraídos pelo cheiro da batateira, voam por diferentes plantações.
Durante um ano, podem formar-se de uma a quatro gerações, dependendo da temperatura local. O calor acelera o seu ciclo de vida permitindo a formação de mais gerações. Quando chega o inverno o escaravelho entra numa espécie de "hibernação" (diapausa), enterrado a 30/40 cm de profundidade.
Como proteger a batata?
O escaravelho da batata quer em larva, quer em adulto, alimenta-se da folha da batateira, triturando-a pela borda. Uma batateira sem folhas não fotossintetiza e portanto não tem capacidade para formar as batatas, e se as consegue formar são muito pequenas ou mirradas.
Mas, segundo refere Ana Aguiar, docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, especialista em agronomia, “se a população de escaravelhos for pequena, acaba por ser benéfica, pois a agressão que provoca estimula a planta a formar mais folhas, fazendo-a crescer mais depressa”. “Há estudos que indicam que até 16 indivíduos por batateira é o número ideal”. A especialista adverte, no entanto, que “é impossível controlar o crescimento da população”, e por isso há que combater a praga desde uma fase inicial.
"Cultivar batata sem inseticida só se o terreno não tiver batata há pelo menos 4 anos e não existirem batatais a alguns quilómetros", garante Ana Aguiar. O tratamento é feito, sobretudo, através de produtos químicos, procurando-se um equilíbrio entre a eficácia do pesticida e os efeitos que possa causar no meio ambiente. A investigação tem procurado soluções biológicas, através do uso de parasitóides, fungos e bactérias, mas de momento os resultados ainda não são satisfatórios.
Ilustração: Xavier Pita
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