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 ©Loke Film and Adam Schmedes/Cell Reports 2015
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Publicado em 6/1/2015 por Renata Silva

Um estudo liderado por um cientista português analisou o genoma da baleia-da-gronelândia, o mamífero que vive durante mais tempo (210 anos). Os investigadores identificaram aspetos da genética deste cetáceo que podem ajudar a perceber como ter uma vida mais longa com saúde. Os resultados foram hoje publicados no jornal científico "Cell Reports".

No espaço de dois anos a equipa de trabalho de João Pedro Magalhães, da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, estudou este animal e descobriu pistas ligadas aos "segredos" da longevidade. "Descobrimos alterações nos genes desta espécie de baleia relacionados com o ciclo celular, a reparação de ADN, e o cancro que podem ser relevantes do ponto de vista biológico", explica ao Ciência 2.0, o investigador.

"As baleias grandes como a que estudamos têm alguns predadores naturais que lhes permitiram desenvolver uma estratégia de crescimento lento e de reprodução adiada", acrescenta. "Promovem também mecanismos naturais para suprimir doenças ligadas ao envelhecimento e à degeneração", diz ainda o cientista.

Com mil vezes mais células comparativamente aos seres humanos, a baleia-da-gronelândia (Balaena mysticetus) não tem um risco aumentado de cancro. "As células das baleias têm um poder metabólico muito mais baixo do que o dos pequenos mamíferos e encontrámos mudanças num gene específico relacionado com a termorregulação que pode estar associado a estas diferenças", pormenoriza.

O genoma da baleia-da-gronelândia foi o primeiro genoma das baleias gigantes a ser sequenciado. "A minha visão é que o que descobrimos nestes cetáceos vá de encontro a um melhoramento do ADN e dos mecanismos de regulação dos ciclos celulares para prevenir a acumulação de danos a nível genético ao longo da vida", aponta, acrescentando que esta seria a "fórmula" para promover a longevidade e a resistência a doenças como o cancro.

"Podemos, a longo prazo, identificar os genes da longevidade que possamos manipular de forma terapêutica", exemplifica.

"Ainda há muito trabalho a fazer para chegar a este ponto", acautela João Pedro Magalhães. O próximo passo da investigação terá de passar pelo teste em ratinhos que o cientista refere como fundamental. "É importante desenvolver estudos em células e em ratinhos, por exemplo, criando ratinhos com genes da baleia-da-gronelândia", remata.

Foto:Loke Film and Adam Schmedes/Cell Reports 2015 

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