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© Flickr/opedagogen
Artigo
Publicado em 26/9/2013 por Cláudia Azevedo

Quantas vezes já disse ou ouviu alguém dizer que estava disléxico por trocar algumas letras numa altura de maior cansaço ou stress? Mas será mesmo que sabe o que é a dislexia? Era capaz de reconhecer os sinais e explicar a sua origem?

Trocam letras, sílabas e mesmo palavras, leem de forma lenta e com muitas hesitações e dão muitos erros ortográficos. Não têm propriamente uma letra bonita. Podem demorar muito tempo a fazer os trabalhos de casa, têm dificuldades em aprender uma língua estrangeira e podem não gostar de ir para a escola ou de realizar atividades a ela relacionadas. Estamos a falar de crianças com dislexia, que representam 5,4% do total de crianças em idade escolar em Portugal.

De acordo com Octávio Moura, psicólogo e docente/formador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), a dislexia é uma perturbação neurodesenvolvimental que normalmente se caracteriza por dificuldades significativas na aprendizagem e na aquisição de competências no domínio da leitura e da escrita em crianças com um nível intelectual perfeitamente normativo ou acima da média.

“Esta perturbação resulta de alterações neurobiológicas e não de fatores de índole pedagógica, emocionais, intelectuais ou outros. Os estudos indicam a presença de algumas alterações genéticas, estando já identificados genes e cromossomas associados à dislexia, e alterações neurofuncionais do córtex cerebral. Não está, porém, estabelecida uma relação de causa-efeito entre as alterações genéticas e as alterações neurológicas”, refere.

De facto, “ressonâncias de neuroimagem funcional em disléxicos apontam para uma menor atividade de certas áreas do córtex cerebral, nomeadamente no hemisfério esquerdo, durante os processos de escrita e de leitura. As imagens mostram que estas alterações dos padrões de atividade cerebral se registam em três áreas, em particular: no lobo parietal, occipital e temporal”.

Os sinais de alerta

Há vários sinais de alerta a que pais e professores devem estar atentos desde a infância. “As crianças com dislexia têm tendência a ter um atraso no desenvolvimento da leitura, problemas de linguagem durante o desenvolvimento, muitas dificuldades, na pré-escola, em realizar exercícios de consciência fonológica, nomeadamente em fazer rimas, segmentação silábica e lengalengas”, alerta.

Na idade escolar, chama a atenção para dificuldades na leitura e na escrita. “São alunos que não aprendem os processos de leitura com a mesma facilidade e velocidade que as demais crianças, cometem muitos erros ortográficos. Em casos de dislexia mais grave, os escritos são, muitas vezes, ilegíveis. Também a leitura pode ser praticamente impercetível”, continua.

Embora estas crianças possam ser muito boas noutras áreas, a ideia de que são normalmente melhores em matemática é um mito. Assim, “há crianças com dislexia que podem ter uma maior predisposição para a matemática, mas o mais frequente é haver igualmente dificuldades nesta disciplina. Por outro lado, sabe-se da existência de uma relação comórbida entre dislexia e discalculia, que consiste numa perturbação do cálculo”. 

Curiosamente, “quanto mais opaco [ver glossário]” for o sistema linguístico, maior será a prevalência da dislexia. O Português é considerado uma língua moderadamente opaca. O Inglês está num extremo, sendo um sistema linguístico bastante irregular e opaco. Por isso, há tendência a haver mais casos de dislexia nos países de língua Inglesa”.

Mas será que dislexia tem cura? “A dislexia não tem uma cura 100% eficaz. Estamos a falar de uma patologia crónica. No entanto, se for diagnosticada e intervencionada precocemente, idealmente no primeiro ciclo (2º, 3º ou 4º ano de escolaridade), as alterações disléxicas poderão ser bastante minimizadas”, garante.

A intervenção é feita “não só a nível das trocas de letras, mas também a nível de algumas funções neurocognitivas, nomeadamente no processamento fonológico e na memória de trabalho [ver glossário]”. Há estudos que demonstram que, com intervenções corretas e atempadas, há progressivamente uma maior atividade das áreas cerebrais envolvidas na dislexia”.

Glossário:

Linguagem opaca - Uma linguagem opaca é aquela em que existe uma correspondência fonema-grafema complexa (um fonema pode ser representado por vários grafemas e um grafema pode assumir vários fonemas). Em oposição, uma linguagem transparente é aquele em que existe uma correspondência clara e direta entre a letra e o som. O Inglês é uma das línguas mais opacas, enquanto o finlandês é considerado um dos mais transparentes.

Memória de trabalho - É um sistema de memória com uma capacidade limitada que está envolvido no armazenamento temporário e no processamento da informação verbal e visuoespacial.

Foto: Flickr/opedagogen

 

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Exemplo de escrita de uma criança com dislexia

Portal da dislexia

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